terça-feira, 20 de agosto de 2013

PRAGA 1968 - CUNHAL E A POLÍTICA DA AVESTRUZ


“COMUNISMO SEM FRONTEIRAS”
QUANDO CUNHAL APLAUDIU A INVASÃO DA CHECOSLOVÁQUIA


Disse Cunhal numa entrevista recente que não acredita no comunismo sem fronteiras. Quanto a ele, isso é coisa “só lá para os tetranetos”. Não vamos fora desta ideia. Mas, vinda de Cunhal, a opinião é curiosa, pela mudança radical que revela. Com efeito, quando há trinta anos os exércitos de Moscovo invadiram a Checoslováquia, Álvaro Cunhal aplaudiu calorosamente, sob o argumento de que o socialismo não conhecia fronteiras.

A 21 de Agosto de 1968 as tropas da URSS e de outros países “aliados” entravam na Checoslováquia para “meter na ordem” o governo de Dubcek cujas iniciativas reformadoras suscitavam esperanças alvoroçadas no Ocidente e alarme em Moscovo. O gesto brutal desacreditou o novo clima de “distensão” e “coexistência” que a direcção russa tentava criar. “O pacto de Varsóvia, observaram com razão os albaneses, passou de tratado de defesa contra a agressão imperialista a um tratado de agressão contra os próprios países socialistas”. Mesmo entre as mais fiéis apoiantes da política da URSS, a agressão causou embaraço e perplexidade. A situação na Checoslováquia era instável e confusa mas não se vivia uma subversão das instituições, como fora o caso da Hungria, doze anos antes.

CUNHAL PREMIADO POR BREJNEV

Álvaro Cunhal é que não teve dúvidas, talvez porque, instalado em Moscovo, tinha acesso aos bons argumentos. O PCP ganhou a honra pouco invejável de ser, em todo o mundo, o primeiro partido a apoiar sem reticências a ocupação militar da Checoslováquia. O Comité Executivo do CC emitiu de imediato, a 23 de Agosto, um comunicado de aprovação. Logo a seguir, numa Declaração, o Comité Central do PCP, voltando a aplaudir a invasão, afirmava que “o princípio da soberania tem sido por alguns considerado de forma abstracta e exclusivamente jurídica, fora dum ponto de vista de classe e internacionalista”. “O PCP entende que os marxistas-leninistas não podem contestar em princípio a legitimidade revolucionária de uma intervenção de países socialistas noutros países socialistas a fim de defenderem as conquistas do socialismo”.
De resto, já na conferência que em Junho reunira os partidos seguidores da URSS, Cunhal justificava antecipadamente a invasão ao afirmar: “Se por agressão do imperialismo ou por acção das forças contra-revolucionárias o poder dos trabalhadores estiver ameaçado num país socialista, é dever sagrado dos demais países socialistas e do movimento operário internacional acorrer em sua defesa”1 Descontada a referência ao “poder dos trabalhadores”, pura questão de estilo, era um aval franco à intervenção russa em qualquer país “desobediente”.
O prémio por esta fidelidade veio poucas semanas depois, a 23 de Setembro, com uma audiência especial concedida por Brejnev a Cunhal, na qual foi registada a “plena identidade de pontos de vista dos dois partidos.”2 Com notável desfaçatez, o comunicado do encontro não fazia qualquer referência à ocupação da Checoslováquia, ocorrida apenas um mês antes! Não é de estranhar que, a partir daí, Álvaro Cunhal passasse a ser elogiado por Moscovo como “eminente marxista-leninista”...
Sabendo-se hoje no que deram as tais “conquistas do socialismo” na Checoslováquia como na URSS, há motivo para perguntar se Cunhal não deveria ter uma palavra de autocrítica na passagem do 30º aniversário da agressão russa. Mas o farisaísmo das suas solenes declarações de princípios já se tornou proverbial.

ALEMANHA NO EPICENTRO DA CRISE

Nesse Verão de 1968, Cunhal sabia como ninguém que fora a própria URSS a acelerar a crise checoslovaca ao forçar a substituição do “stalinista” Novotny pelo “reformador” Dubcek. De facto, em Janeiro, Novotny fora pressionado para sair de secretário-geral do partido comunista, por se opor às reformas económicas visando a introdução de mecanismos do mercado. Ora, para os russos, a Checoslováquia surgia nessa época como um útil banco de ensaio da “destalinização” – tentar rejuvenescer o poder da burocracia do Partido-Estado com uma abertura controlada ao capitalismo privado. Queriam experimentar num pequeno país aquilo que ainda não se atreviam a pôr em prática.
Mas os russos queimaram-se no seu próprio jogo. Não previram a dinâmica imparável que iria assumir a “liberalização” num país com uma tradição burguesa fortemente enraizada. Rapidamente, as reformas checoslovacas começaram a transbordar para além dos limites fixados por Moscovo: multiplicação de associações e jornais, libertação dos que antes haviam sido condenados como contra-revolucionários, contestação da autoridade do partido comunista, sinais de abertura ao Ocidente...
O que isto punha em causa eram interesses económicos e vínculos militares. Os “superiores interesses do socialismo”, solenemente invocados tanto por Moscovo como por Praga, não passavam de uma imagem de retórica. Devia a Checoslováquia continuar a fazer parte da “esfera de influência” reconhecida a Moscovo pelo Ocidente desde o fim da guerra mundial, ou chegara a hora de bascular para o campo do “mundo livre”? Esta era a questão.
E isto não tanto pela Checoslováquia em si como pela questão alemã. Quem se apercebeu com lucidez da cartada foram mais uma vez os albaneses: “A grande partida que se joga na Europa é a unificação da Alemanha. Este é o objectivo tanto de Bona como do imperialismo norte-americano. Ambos se esforçam por que a República Democrática Alemã seja liquidada sem guerra. A eliminação da RDA do mapa da Europa e a criação do novo Reich constitui o epicentro a partir do qual se visa liquidar a influência soviética sobre os seus satélites europeus e incentivar a aproximação destes a Bona.”3 Na Checoslováquia jogava-se um episódio do leilão da RDA, que viria a consumar-se vinte anos mais tarde.

CRÍTICA LIMITADA

Naquela época, a esquerda comunista, representada pelos “pró-chineses” e “pró-albaneses”, teve o mérito de denunciar com igual vigor a farsa liberal burguesa do “socialismo de rosto humano” de Dubcek e a odiosa ocupação militar russa. Contudo, a corrente marxista-leninista estava ainda apegada ao mito de que teriam existido na URSS e na Europa Oriental regimes de ditadura do proletariado e de que se estava perante um “retrocesso ao capitalismo”. Escapava-lhe a natureza de capitalismo de Estado desses regimes desde a origem (como aliás dos da China e da Albânia) e a sua incontrolável tendência para evoluir para o capitalismo concorrencial.
Daqui resultava a incapacidade para explicar cabalmente os fenómenos do “stalinismo” e da “destalinização” e concretamente o caso checoslovaco. Se punha o dedo na ferida quando denunciava o entusiasmo dos estudantes e da intelectualidade pelas reformas como manifestação pequeno-burguesa social-democrata, não tinha explicação para a inércia do proletariado checo quando teoricamente estariam a ser atacadas as “conquistas socialistas”.
Deste modo, entre a cínica campanha ocidental em defesa da “Primavera de Praga” e o hipócrita argumento russo da “defesa do socialismo”, a posição dos comunistas de esquerda não ganhou poder de convicção junto dos trabalhadores. Com poucas excepções, os operários avançados do nosso país deixaram-se iludir pela demagogia de Cunhal e do PCP e foram levados a aprovar a ocupação russa da Checoslováquia como um acto anti-imperialista.

(P.O. nº 66, Setembro/Outubro de 1998)

1 - Avante nº 404, Julho 1968.
2 - Avante nº 408, 2ª quinz. Outubro 1968.
3 - Enver Hoxha ao CC do PTA, 5 de Setembro de 1968, Obras Escojidas, tomo IV, p. 502, Tirana, 1983
 


 

domingo, 14 de abril de 2013

BEM RAZÃO TEM O PS SEIXAL

O JORNAL "SEM MAIS" NOTICIA NA EDIÇÃO DE SÁBADO, AQUILO QUE VIMOS DIZENDO E EM PRIMEIRA MÃO. O TERMINAL DE CONTENTORES É POSSÍVEL E DESEJÁVEL NO CONCELHO DO SEIXAL.







À REVELIA DOS VELHOS DO RESTELO, DESDE SÃO DOMINGOS À LAPA PASSANDO PELA SOEIRO PEREIRA GOMES, AS FORÇAS POLÍTICAS NESTE CONCELHO, À EXCEPÇÃO DO PS, TORCERAM O NARIZ A ESTE PROJECTO.


AQUI ESTÁ A PROVA ACABADA QUE O PS SEIXAL TEM VISÃO, TEM PROJECTOS.

 


AGORA, SÓ FALTA QUE OS SEIXALENSES NOS DÊEM A FORÇA DOS VOTOS, POIS TODOS TEMOS A GANHAR.


 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

NESTE GRANDE CONCELHO E À VOLTA DA MESA, PARTILHO CONVOSCO ESTE TEXTO PREOCUPANTE E PICANTE.


 

A propósito do Endividamento da Câmara Municipal do Seixal
O Executivo CDU da Câmara Municipal do Seixal levou à Sessão de Câmara no dia 14 de Fevereiro um Plano de Saneamento Financeiro ao abrigo da Lei das Finanças Locais, para
Municípios que se encontrem em desequilíbrio Financeiro. Numa primeira fase, a Câmara do Seixal propôs-se aderir ao Programa de Apoio Economia Local (PAEL). Porém, tendo-se verificado que, em 31 de Dezembro de 2011, o Município se encontrava em desequilíbrio Estrutural e que, o montante de financiamento neste programa não poderia ultrapassar 16 milhões de euros, valor insuficiente para as necessidades mínimas da CMS, tal adesão não foi concretizada.
Em 2013 a CMS, após correcção das medidas necessárias e de forma a poder ser enquadrada na figura de desequilíbrio Conjuntural, apresenta agora à Tutela o referido Plano de Saneamento Financeiro, com um pedido de empréstimo de 40 Milhões de euros.
Nas explicações apresentadas pelo executivo CDU, as culpas de tal desequilíbrio são essencialmente do Governo ou dos Governos da República, os quais têm vindo a diminuir as transferências do Estado.
É lamentável ouvir os Vereadores comunistas declararem que não têm culpa de nada de mau que se passa no concelho do Seixal, nomeadamente desta gestão desastrosa que levou a CMS ao buraco financeiro sem fundo em que se encontra.
Mas, por outro lado, é curioso ouvir este Executivo vangloriar-se com o que de bom acontece no Município mesmo que seja fruto de investimentos do Governo Central. Nesses casos, tudo foi feito pela Câmara. É uma cassete já esgotada esta em que só assumem o bom e o que de mal ali se passa, é sempre responsabilidade de outros.
Esta Câmara é governada pela CDU há mais de 35 anos e, pasmem-se os leitores, mesmo assim a culpa é dos outros. É caso para se dizer parem de mentir, parem de tentar atirar areia para os olhos dos munícipes, assumam com dignidade e humildade os acontecimentos. Então, 35 anos de maiorias absolutas a governar a Câmara e querem fazer crer que são os melhores gestores que este município podia arranjar?! Haja verticalidade, haja responsabilidade e assumam a vossa incapacidade gestionária e ruinosa a que levaram este Município. Digam, olhos nos olhos, aos munícipes que, daqui para a frente, vão ter que ver os impostos agravados, como é o caso do IMI, que vai aumentar dos actuais 0.395% para 0.425% até 2017 e que todas as taxas e restantes impostos vão também aumentar para fazer face às asneiras e incapacidade de gestão que agora está à vista. Assumam, pelo menos, os factos e não culpem constantemente os Governos da República.
E os factos são evidentes:
Endividamento Total em 31/12/2012: 104 milhões de euros;
Dívidas a fornecedores declaradas: mais de 63 milhões de euros;
Dívidas a Bancos: Cerca de 39,5 milhões de euros;
E que dizer do já famoso contrato de arrendamento dos novos edifícios da Câmara os quais custam ao Município cerca de 500 mil euros de rendas mensais, ou seja cerca de 6 milhões de euros anuais?! Podemos chamar-lhe contrato Faraónico, ou Megalómano, ou Ruinoso? Perante estes factos resta aos munícipes prepararem-se para pagar o resultado desta dívida, aumento do IMI e das restantes taxas e impostos, aumento no tarifário da água o qual se vai reflectir já a partir de Abril na conta da factura de água e resíduos, e com posteriores aumentos progressivos, o que pode representar um aumento de até 220%. Cabe agora a todos os munícipes estarem atentos e julgar a gestão do Município, uma vez que o Executivo continua a mentir e a fugir à responsabilidade de 35 anos à frente dos destinos da Câmara do Seixal. Os resultados estão à vista: resumem-se a mais austeridade e mais contas a pagar para todos aqueles que escolheram viver no Concelho do Seixal.
É tempo de mudar e construir um Seixal com Futuro! Eduardo Rodrigues
Vereador do Partido Socialista da Câmara do Seixal.

 
COMENTÁRIO: Para uma Câmara Comunista, nada melhor de uma máxima marxista: "Até agora os filósofos mais não fizeram do que interpretar a realidade, o que importa é transformá-la". Eu adaptaria, dizendo: até agora alguns munícipes mais não fizeram do que tolerar esta realidade, doravante o que importa é TRANSFORMÁ-LA e essa transformação passa pelo NÃO à indiferença, não à ABSTENÇÃO, passa pelo DENUNCIAR, todos os dias e em todos os locais, sítios e lugarejos, o DESASTRE a que se chegou, passa, em suma, por VOTAR por uma ALTERNATIVA, passa por mostrar justamente um CARTÃO VERMELHO a quem esteve mais de três décadas a arruinar, dia a dia, este nosso belo Concelho que não merecia o tanto mal que lhe fizeram. BASTA, VOTEMOS!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Quem esteve e quem está em Belém!

O meu amigo e camarada Samuel Cruz fez-me chegar,
via e-mail, este texto que merece ser divulgado



 


Quando cumpria o seu segundo mandato, Ramalho Eanes viu ser-lhe apresentada pelo Governo uma lei especialmente congeminada contra si.

O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber.

Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para a qual descontara durante toda a carreira.

O desconforto de tamanha injustiça levou-o, mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor.

Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros.

Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados - e não aceitou o dinheiro. Num país dobrado à pedincha, ao suborno, à corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imergem, nos imergem por todos os lados.

As pessoas de bem logo o olharam empolgadas: o seu gesto era-lhes uma luz de conforto, de ânimo em altura de extrema pungência cívica, de dolorosíssimo abandono social.

Antes dele só Natália Correia havia tido comportamento afim, quando se negou a subscrever um pedido de pensão por mérito intelectual que a secretaria da Cultura (sob a responsabilidade de Pedro Santana Lopes) acordara, ante a difícil situação económica da escritora, atribuir-lhe. «Não, não peço. Se o Estado português entender que a mereço», justificar-se-ia, «agradeço-a e aceito-a.

Mas pedi-la, não. Nunca!»

O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria, pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e primeiras páginas de periódicos) explica-se pela nossa recalcada má consciência que não suporta, de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos.

"A política tem de ser feita respeitando uma moral, a moral da responsabilidade e, se possível, a moral da convicção", dirá. Torna-se indispensável "preservar alguns dos valores de outrora, das utopias de outrora".

Quem o conhece não se surpreende com a sua decisão, pois as questões da honra, da integridade, foram-lhe sempre inamovíveis. Por elas, solitário e inteiro, se empenha, se joga, se acrescenta- acrescentando os outros.

"Senti a marginalização e tentei viver", confidenciará, "fora dela. Reagi como tímido, liderando". O acto do antigo Presidente («cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que por aí se tornou comum», como escreveu numa das suas notáveis crónicas Baptista-Bastos) ganha repercussões salvíficas da nossa corrompida, pervertida ética.

Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o bastão de Marechal) preservou um nível de dignidade decisivo para continuarmos a respeitar-nos, a acreditar-nos - condição imprescindível ao futuro dos que persistem em ser decentes.

Fernando Dacosta

Nota:

Já escrevi algures no Expresso um comentário sobre Ramalho Eanes, mas sinto-me na obrigação de dizer algo mais e que me foi contado por mais que uma pessoa.
Disseram-me que perante as dificuldades da Presidência teve de vender uma casa de férias na Costa de Caparica e ainda que chegou a mandar virar dois fatos, razão pela qual um empresário do Norte lhe ofereceu tecido para dois. Quando necessitava de um conselho convidava as pessoas para depois do jantar, aos quais era servido um chá por não haver verba para o jantar. O policia de guarda em vez de estar na rua de plantão ao frio e chuva mandou colocá-lo no átrio e arranjou uma cadeira para ele não estar de pé. Consta que também lhe ofereceram Ações da SLN-BPN, mas recusou.


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